Caminhos

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Porque não pode haver outra forma senão a de existir tal como somos...

segunda-feira, 14 de março de 2016


Homenagem às gentes do meu bairro

Bairro

Gosto do meu bairro onde vivem
as mesmas pessoas há décadas
e transportam consigo o rosto dos tempos,
as rugas do que aconteceu com elas
e comigo e com todos.
O  meu bairro que tem ecos de silêncio
o meu bairro que não é meu, que é dele
e do outro e de ninguém.
O meu bairro vulgar onde nada acontece
onde só por vezes alguém deixa de existir
sem deixar de ser.
O meu bairro onde não cabe
o acontecimento de uma reportagem
e que por isso mesmo é bonito.
O meu bairro é velho, é pobre, é mundano,
é banal, vulgar,
mas tem marcas da nossa identidade
de sermos nós por dentro e por fora
de cabermos inteiros num “bom-dia!”
acompanhado de um sorriso redondo.
Comungo esta partilha e esta magia
com os outros
enquanto caminhamos diariamente
para o futuro envelhecendo sabiamente.

GA




















Flores de ginja no quintal da minha casa do bairro 

21 comentários:

  1. Muito belo este poema a um bairro com identidade e afectos.
    Beijos.

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  2. Boa noite, GA
    Gostei muito desta poesia que desperta intimidades vividas que já não há. Hoje, a palavra Bairro, por si só, desperta sentimentos contraditórios de medo e repulsa. As pessoas vivem de costas voltadas alheias ao que se passa do outro lado da parede. Um bom dia no elevador, vá que não vá...

    Bairro?
    Cada um tem o seu
    mas já não há nenhum
    como o meu:
    quadrilha de Buck Jones
    a disparar bolas
    nas couboiadas das santas tardes
    a esfolar joelhos
    e a derreter solas.

    Bj

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    1. Obrigado!
      Tem muita razão...instalaram-se o egoísmo e a indiferença, quando cada vez precisamos mais uns dos outros...
      Que bonito poema...
      beijinho

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  3. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  4. Gosto do poema, que me transportou até à rua onde vivi até aos 35 anos e onde continuei a ir diariamente até há poucos anos.
    Hoje já não é a mesma, porque já lá não estão as pessoas com quem cresci.

    Também gostei da foto:)
    Beijinhos e continuação de boa semana:)

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    1. Obrigada, Isabel!
      Neste momento também já não vivo no meu bairro, mas é como se lá vivesse, continuará sempre meu...tenho lá um espaço para cuidar e pessoas que é sempre bom rever...
      beijinhos

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  5. Penso que na simplicidade das pessoas e das coisas é que está realmente a sabedoria e a beleza.
    Um bairro assim merece um poema que o enalteça e isso aqui aconteceu. Parabéns!

    Um beijinho

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  6. No seu bairro ainda há espaço para cantar

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    1. há, sim :) muito espaço para cantar!
      beijinhos e obrigada

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  7. E como é bom viver num sítio onde todos se conhecem...
    Um excelente poema, gostei imenso.
    Bom fim de semana, querida amiga Graça.
    Beijo.

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  8. Graça,
    Conheço alguns bairros, da vida muito própria que deles jorra. Infelizmente, devido à vida apressada dos tempos que decorrem, estão a perder viço, a vizinhança fica, cada vez mais, para lá da porta, num isolamento alicerçado na falsa convicção de que as paredes é que nos protegem, dando corda aos medos.
    Gostei das palavras, gostei ainda mais do aroma que se solta delas, a revelar uma sensibilidade muito própria.

    Um beijinho :)

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    1. Obrigado, AC.
      Tem toda a razão na sua visão do bairro.
      O mundo, infelizmente, tornou-nos seres solitários, medrosos e egoístas...
      bjinho

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  9. Gostei do teu bairro, muito teu.
    Beijinho.:))

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  10. O bairrismo fica sempre bem, desde que não seja exagerado.

    Do poema gostei muito.

    Abraço com votos de excelente Primavera.

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  11. Também moro num bairro e gosto muito. Há sempre os bons dias tão saudáveis nestes tempos que correm. O poema é lindo. Beijos com carinho

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    1. Olá, obrigada!
      É muito bom viver rodeada de gente simpática!
      beijinho

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