Caminhos

Caminhos
Porque não pode haver outra forma senão a de existir tal como somos...

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016



É tempo de comer todos os frutos, mesmo a maçã proibida de Adão. O pecado é um pó inócuo e purificador impresso na pele, um castelo de areia a desfazer-se em permanente luta contra as falésias do devir. Há febre a latejar no teu corpo dormente (estátua de pedra a gemer lamúrias secretas) em cada minuto adiado e já é tarde em cada instante que passa.
Nunca sabemos de que lado espreita a madrugada para anunciar de repente a partida. Chronos não dorme e jamais se compadecerá das nossas hesitações.


quarta-feira, 30 de novembro de 2016


Ciclo Coimbra T(em) Poesia 

Foi no passado Sábado, dia 26 de Novembro. Fui convidada pelo meu amigo João Rasteiro para participar no evento "Coimbra T(em) Poesia", na Casa da Escrita em Coimbra e aqui fica o que disse, para quem quiser ter a paciência de ler.
"Agradeço a todos os presentes por terem vindo e agradeço também ao João por me ter convidado. Após o convite do João, duas questões se me colocaram. Por que razão fui convidada pelo João, na qualidade de poeta, se sou essencialmente professora e se ainda só publiquei um livro de poesia? Esta questão leva a outra questão. O que é um poeta? Um poeta será aquele que publica muitos livros de poesia? Será o que, apesar de publicar pouco, publica boa poesia? E poder-se-á falar de boa/má poesia ou de bons/maus versos? Poderá ser ainda um poeta aquele que escreve versos, mas apenas para a gaveta? 
Como tinha estas dúvidas todas, resolvi ir ao dicionário (uma das minhas bíblias) ver o que nos diz sobre a palavra poeta. E o que nos diz é o seguinte: "poeta - adj. que faz poemas ou versos. n.masc. 1. autor de poesia; vate; versejador. 2. autor cuja obra tem características poéticas. 3. aquele que tem inspiração ou imaginação inspirada. 4. idealista, sonhador; 5. indivíduo bem falante, eloquente. 
poeta de água doce - poeta que faz maus versos."
Então seremos todos poetas? 
E eu? Serei poeta?
Se me perguntarem o que sou responderei sem qualquer hesitação "sou professora", porque é o que faço a maior parte do tempo, enquanto não estou a dormir, mas também sou outras coisas. Sou mãe de duas filhas adolescentes, com todo o trabalho e preocupações que isso implica; sou filha de uma mãe praticamente inválida e que depende exclusivamente de mim; sou dona de casa, com todas as tarefas inerentes ao ofício - lavar, passar, secar, arrumar, cozinhar...também sei furar paredes com o berbequim e colocar as buchas e os parafusos, porque gosto de bricolage e decoração. Enfim, no final de tudo isto e no pouco tempo que me resta, faço poesia. Então como funciona em mim o processo da criação poética? De duas formas, através do sofrimento, das "pancadas da vida" e por "encomenda" e como já levo pancadas da vida há muito tempo, embora não se note, já escrevo há muito tempo. 
Uma das primeiras pessoas que me "encomendou" um poema foi a minha muito querida irmã Alexandrina, minha catequista, uma freirinha da Casa de Formação Cristã, o "Refúgio", situado ali ao pé do Clube dos Empresários, que me mandou fazer um poema sobre o Natal (leitura do poema). Eu tinha então por esta altura 10 anos. Hoje já vejo o Natal com outros olhos (leitura de um poema atual sobre o Natal). Depois vieram os textos de escola, encomendados pelos meus brilhantes professores de português, que tive a sorte de ter e pela mão dos quais escrevi variadíssimos textos. Seguidamente, ou talvez em simultâneo, veio a adolescência e os poemas de sofrimento de amor e ainda bem que tive o bom-senso de rasgar tais manuscritos, pois era amor por todo o lado e digamos que não eram palavras demasiado lamechas para que se dessem a ler. Entretanto cheguei a este livro, o "Cores do Silêncio". E por que razão publiquei só agora? Porque eu considero que para publicar, é necessário reunir três coisas: experiência de vida, maturidade e técnica. Os meus poemas da adolescência até podiam ter muito sentimento, mas faltava-lhes maturidade e técnica. Decidi publicar este livro, não por qualquer tipo de pretensão, mas porque achei que tinha mensagens que eu queria partilhar.(leitura de um poema do livro - "Ao Vulgo").
Sei que existem muitas formas de fazer poesia, mas os meus poemas nascem do sofrimento, não apenas do meu, mas daquele que sinto através dos outros, exatamente como o Fernando Pessoa descreveu na sua Autopsicografia - o poeta tem uma dor, uma emoção, um sentimento e depois passa a um segundo patamar da dor, quando racionaliza as emoções, quando trabalha as palavras e as lapida, distanciando-se da dor que sentiu inicialmente. A dor última do poema será a dor do leitor e corresponde à dor da interpretação que poderá não ser de todo coincidente com a do poeta. O poema é um objeto estético e tal como nas outras artes, produz diversas interpretações.
Irei publicar entretanto outro livro que se encontra dividido em três partes e gostaria de ler agora um poema de cada uma delas (leitura dos três poemas).
E como este evento se intitula "Coimbra (T)em Poesia" vou ler agora o poema "A Coimbra" do livro Cores do Silêncio. (leitura do poema).
Deixo-vos um dos meus poemas que foi lido pelo João Rasteiro e declamado pelo poeta Alexandre Sarrazola nesta sessão:"




quando nascemos
os bichos abriram desmesuradamente os olhos
para a perfeição dos querubins
e a boca de espanto
esconderam-se dentro das nossas asas
para voar connosco
assim que aprendêssemos
lá de dentro segredaram-nos histórias
de bruxas lobisomens e fantasmas
perigos culpas castigos
e não encontrámos mãos para os tirarmos
do ninho construído com as nossas penas
os bichos gritam-nos que perdemos
a cada instante
e que as vitórias são longe
é preciso expulsar os bichos dementes
que nos trazem visões de adamastores
fazer-lhes uma cirurgia
abrir-lhes as entranhas
retirar-lhes o fel
implantar-lhes um coração qualquer
desde que seja um coração
é preciso afastar os bichos para longe
travar a força dos presságios
pintar as asas de branco

e voar limpos











A esta sessão seguiu-se um pequeno debate com questões da assembleia aos 2 poetas participantes e, finalmente, foi-nos oferecido um conjunto de livros.
Uma sessão fantástica, para recordar!

sábado, 26 de novembro de 2016


Amanhã, Coimbra tem poesia...e eu serei uma das intervenientes...
Se puderem apareçam!


http://www.cm-coimbra.pt/index.php/areas-de-intervencao/cultura/agenda/item/4359-coimbra-t-em-poesia


terça-feira, 22 de novembro de 2016


Queridos amigos:

Andei ausente e fiz uma paragem na escrita, mas andei ocupada com outras tarefas...restauro de peças (pintura de cadeiras e cabides, entre outras coisas).
Também aproveitei para "banquetes" familiares.
Deixo uma mostra da minha ausência.
Visitar-vos-ei entretanto :)
























segunda-feira, 31 de outubro de 2016


Não te detenhas. Não olhes para trás. Há muitos companheiros de viagem ainda à tua espera. Precisam de ti sentados nas clareiras com fogo e danças de roda, sorrisos e palmas. Falta muito para o fim do caminho. Aprende com as pedras que te ferem os pés e com as silvas que te rasgam a carne, mas não te detenhas. Caminhar em frente é a cura das feridas. O mal também te constrói e purifica. Erras. Levanta-te. Só serás completo se aprenderes. Continua o teu trilho e observa os caminhantes que se cruzam momentaneamente contigo. Todos te trazem lições. Absorve-as e lá ao fundo serás pleno e inteiro e terás sabedoria, quando fores recebido na clareira com sorrisos, palmas e cantares à volta da fogueira.


terça-feira, 25 de outubro de 2016



Desfilam bailarinas e saltimbancos apetrechados de arsenais coloridos. Dramatizam loucamente em danças vertiginosas e perfeitas. Ostentam beleza e sorrisos esplendorosos. As máscaras estão gastas e os números repetidos, mas experimentam incessantemente novos arremedos para divertimento dos espectadores. Soam palmas. Os mais críticos queixam-se e gritam da plateia que é preciso deixar fermentar a verdade, banir a hipocrisia, a vaidade e a falsa ostentação.

No palco, todos estão surdos.


sábado, 1 de outubro de 2016


Viemos para quase tudo.
No topo de qualquer montanha há sempre ainda outra mais longínqua onde se adivinham horizontes de nós, sombras fugidias que já nos pertenciam mesmo antes de nascermos.
O sol continua à nossa espera lento e corcovado, arrastando-se a olhar os velhos sabedores nos bancos de jardim.
Bastardos de uma penumbra qualquer, estamos para cuidar das árvores e deixar os ninhos amadurecer nos beirais das casas.
Tateamos todas as infinitudes para saciar a fome, a sede e o desejo.
Ansiamos escarpas nas montanhas que nos agasalhem do frio, do medo, do tremor e da pressa.

Viemos para o regresso de nós mesmos.


domingo, 4 de setembro de 2016


embarco novamente nas trincheiras da guerra
de tantos sorrisos beligerantes         
de armas em punho
o sol habitado de medo
esbate-se por entre o fumo dos bombardeamentos
minando monstruosamente
a inútil cautela das tropas
as ofensivas militares
provocam frio no estômago
rebentam por toda a parte
granadas de violência e ódio
os brados precipitam-se nas nuvens
e desmoronam-se contra o chão
a vida presa por um fio
sem tréguas nem oásis
a luta diária é um arco-íris
uma miragem

a baloiçar entre o céu e a terra


domingo, 7 de agosto de 2016



esgota-se o tempo
pelos beirais das casas
a albergar ternuras insuspeitas
chega a manhã
e despes as asas
pesam-te os ombros
cansados dos incontáveis sonhos
náufragos nas mãos da noite
espraias-te por lugares
habitados de vazio
refugiado em cada amanhecer
tens lágrimas nas mãos
e brilho nos olhos
de inventar paraísos
pesam-te os dias
numa estrada longa
em que não encontras o sentido
cais
não és frágil
és só um deus
a tentar não ser

GA



quinta-feira, 7 de julho de 2016


há em mim um inimigo
por nascer
e em ti uma arma por içar
há flechas doces a sair dos meus olhos
alvoradas indistintas no teu sorriso
e paisagens feéricas no calor da tua voz
temos armas embainhadas por dentro do sangue
e flores irreais à superfície da pele
por entre estes beijos ousados
falta saber quem somos

GA




















Edição 2016 das Pastinhas da Casa de Infância Dr. Elysio de Moura, onde se incluem alguns dos meus poemas inéditos.
A foto de Coimbra foi tirada hoje de manhã da varanda da Casa da Infância de onde se vê a outra margem de Coimbra, uma vista soberba!



Apontamento histórico:

(texto retirado do site da Universidade de Coimbra, Notícias UC)

"A Venda das Pastas é uma tradição com mais de 70 anos que acontece sempre durante a Queima das Fitas, com o objetivo de ajudar a Casa de Infância Doutor Elysio de Moura. Ao longo do ano, as crianças da Casa de Infância preparam réplicas em miniatura das pastas dos estudantes. Reproduzidas com as cores das faculdades da Universidade de Coimbra, as “pastinhas” guardam poesia.

O uso da pasta surge no seguimento de uma outra tradição. Quem o afirma é o presidente da Casa de Infância Doutor Elysio de Moura. Manuel Ferro conta que “a Queima das Fitas vai entroncar na tradição da queima da sebenta há cento e tal ano atrás”. A sebenta, que era queimada no final do curso, era muitas vezes guardada “em pastas atadas com fitas”, conta o responsável. “É daí que surgem as fitas das pastas de hoje”, revela. Ao longo do tempo, as fitas tornaram-se um “símbolo da vida académica” e, de acordo com Manuel Ferro, “a questão de se escolher a pastinha foi precisamente por causa do valor simbólico que a pasta tem para a vida académica”.

A iniciativa é, atualmente, uma forma de angariar verbas, que vão direcionadas para as salas de lazer da Casa de Infância Doutor Elysio de Moura".

Reportagem realizada por Ana Zayara, estudante de Jornalismo na FLUC, e Rosana Vaz, estagiária Projeto Imagem, Media e Comunicação da Universidade de Coimbra.

terça-feira, 28 de junho de 2016




era uma tortura
que ouvia de longe
indo e vindo
persistente e traiçoeira
como um grito sem eco
um perfil indistinto
a modelar pesadamente
angústias quotidianas
apagou-a com um pincel
dentro do seu coração
e criou uma obra de arte
um pedaço de ilusão


quinta-feira, 16 de junho de 2016

Ao eu – II

Acordo de mim estranha em cada dia
Com o meu ser à minha frente, eu atrás
Quando o apanho ele foge em correria
E esconde-se, volátil e sagaz.

À vinda vem despido de alegria
Quer mãe, mas o meu colo é incapaz.
Aquilo que buscava não havia
E o que queria encontrar não traz.

Que procura o meu ser que em mim não tem?
Desolada pergunto e ele nada diz.
Refeito da ilusão, da vã demanda

Já novamente se vai, não se detém
E eu temo a sua queda de aprendiz
Impotente, só ele me comanda.


Graça Alves, in Cores do Silêncio






domingo, 29 de maio de 2016

Mãe

tens os olhos mansos
das lutas de uma vida
os músculos sem força
e o corpo entorpecido
mas o teu sorriso é feliz na dor
e há força na tua esperança inabalável
que não sei de onde vem
obrigo-me a engolir a comoção
perante a tua imensa fragilidade
a vida pesa
como um trapo velho
a humedecer-nos a memória
e o tempo
que escasseia para tanto amor
sabe a solidão
ao distante das vozes do pai e da avó
aos risos da minha infância dormente
à bolacha esmigalhada com pêssego e banana
ao não sei quê do tanto que me deste
o meu coração é grande
mas não tem força para te pegar ao colo
porque preciso
mãe
que me embales outra vez





quarta-feira, 18 de maio de 2016




há dias em que envelhecemos mil anos
basta o sol não se pôr
e os monstros nascerem nas clareiras
vivemos muitas vidas
a lutar dentro de nós
e as dores dessas vidas
gritos suor lágrimas
oração cansaço
o fim do caminho
a esperança esvair-se
como o sangue das veias
e resistimos até novo amanhecer
e o dia clarear de mistérios e dúvidas
de pé continuamos



domingo, 8 de maio de 2016


"The weeping woman"

a janela fechada
uma nesga de sol entre a cortina
lá fora a rapidez o bulício
a multidão desastrada e distraída
cá dentro
o silêncio
os vasos tristes
os quadros de abismos infinitos
os recantos incólumes da casa
na mesa
o tabuleiro de xadrez
o jogo interrompido
a bengala no canto da lareira
a poltrona vazia
a grinalda de flores
da moldura que dói
com o teu sorriso
a morte ri
eu choro

GA





















The weeping woman - Pablo Picasso

sexta-feira, 22 de abril de 2016

O Amor são rosas

da minha janela vejo o vento
que tu não vês
gosto de navegar
no baloiço dos teus olhos
na liquidez das tuas palavras
e rio-me
como uma criança inocente
à descoberta do mundo por abrir
sinto o aroma das searas
a entrar-me pelos poros
e escrevo a beleza dos dias tristes
recuso a calmaria das marés
sem gritos e sem pressas
a solidão disfarçada
esse andar devagar
o meu corpo é uma chama ardente
a clamar desesperos poéticos
a poesia é coração

o amor são rosas


sábado, 16 de abril de 2016


Protege-te, P

Não te deram o amor devido, mas não te levaram o coração...

A P tem 14 anos e os seus progenitores não puderam ou não quiseram ser pais...vivia com os avós...Na última aula disse-me a turma que a P não estava, porque ia para um colégio interno...Duvidei! A P estará doente, a P não quis vir, a P não quer "apanhar seca", a P  não quer ouvir os sermões dos professores, pensei...Nada disso...Hoje a aula foi triste...a P não volta mais...mas a melhor amiga da P entregou-me uma carta que a P fez questão de me deixar e como o meu coração sempre me acompanha...chorei! 
Abençoada sejas, P, qualquer que seja a instituição em que estejas! A vida é dura! Tu já o sabes! Mas esforça-te por favor, para que ela não se torne ainda mais dura!



















"Digo-vos que assim haverá maior alegria no céu por um pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento.”"
Bíblia, Lucas 15:7

quarta-feira, 6 de abril de 2016


Bem-aventurados

bem-aventurados os puros os simples e os humildes
porque o seu sorriso traz paz e confiança
bem-aventurados os corajosos
porque se libertam na luta
bem-aventurados os injustiçados e os que sofrem
porque se tornam fortes e bons
bem-aventurados os que amam e os que perdoam
porque à sua volta em círculos unem todas as mãos
bem-aventurados os generosos
porque renunciam da riqueza  chamando os pobres a si
bem-aventurados sejam todos os homens
que iluminam o mundo com o seu brilho
e fazem do sonho e da conquista o seu lema
uma canção para renascer
porque para eles foi feita esta Terra

GA












Pieter Bruegel - A Torre de Babel



segunda-feira, 21 de março de 2016

A poesia dá-nos a beleza dos dias tristes

Por coincidência, ou talvez não, foi no dia do pai que recebi o 2º prémio da VI edição do concurso "Poesia na Biblioteca" promovido pela Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova e como não podia deixar de ser dediquei este prémio ao meu pai que, se estivesse vivo, ficaria muito orgulhoso dele...
Agradeço à minha amiga Ana Ruas a companhia e a caixinha dos bolos. Foi um bom momento!


as árvores já não gostam dos homens
porque eles atraiçoaram-nas
adiantando os relógios malditos
ao encontro suicida da apoteose final
aliciante cinzenta e indistinta
os pássaros foram fazer ninhos
nas nuvens negras 
as crisálidas apodreceram no porão 
dos navios abandonados
onde naufragaram os desejos
das sete virgens que sonharam
com paraísos e felicidade infinita
veio um deus maldito
sacudir os frutos das árvores
que apodreceram nas searas
onde não nascem papoilas
as montanhas abriram-se
formando túneis vazios
as casas ardem de febre
porque os homens têm o betão 
o níquel a prata e o ouro 
por dentro das veias e dos músculos
e as crianças que brincavam dentro deles 
adormeceram para sempre
agora as árvores estão velhas e cansadas
viram as costas aos homens e adormecem zangadas
num sonho agitado e perturbador de cavalos a galope
e crianças a brincar com ferro forjado
no céu uma caneta acusadora sentencia
mas o discurso é uma metáfora esquecida
o tempo é para mastigar devagarinho
como pão com manteiga à sombra das árvores 
que gostam de contar histórias aos homens 
da terra virgem a brincar 
com bonecas rosadas de puxos 
os relógios também estão cansados
o tempo está velho
e definha debaixo da abóbada celeste

GA