Ciclo Coimbra T(em) Poesia
Foi no passado Sábado, dia 26 de Novembro. Fui convidada pelo meu amigo João Rasteiro para participar no evento "Coimbra T(em) Poesia", na Casa da Escrita em Coimbra e aqui fica o que disse, para quem quiser ter a paciência de ler.
Foi no passado Sábado, dia 26 de Novembro. Fui convidada pelo meu amigo João Rasteiro para participar no evento "Coimbra T(em) Poesia", na Casa da Escrita em Coimbra e aqui fica o que disse, para quem quiser ter a paciência de ler.
"Agradeço a todos os presentes por terem vindo e agradeço também ao João por me ter convidado. Após o convite do João, duas questões se me colocaram. Por que razão fui convidada pelo João, na qualidade de poeta, se sou essencialmente professora e se ainda só publiquei um livro de poesia? Esta questão leva a outra questão. O que é um poeta? Um poeta será aquele que publica muitos livros de poesia? Será o que, apesar de publicar pouco, publica boa poesia? E poder-se-á falar de boa/má poesia ou de bons/maus versos? Poderá ser ainda um poeta aquele que escreve versos, mas apenas para a gaveta?
Como tinha estas dúvidas todas, resolvi ir ao dicionário (uma das minhas bíblias) ver o que nos diz sobre a palavra poeta. E o que nos diz é o seguinte: "poeta - adj. que faz poemas ou versos. n.masc. 1. autor de poesia; vate; versejador. 2. autor cuja obra tem características poéticas. 3. aquele que tem inspiração ou imaginação inspirada. 4. idealista, sonhador; 5. indivíduo bem falante, eloquente.
poeta de água doce - poeta que faz maus versos."
Então seremos todos poetas?
E eu? Serei poeta?
Como tinha estas dúvidas todas, resolvi ir ao dicionário (uma das minhas bíblias) ver o que nos diz sobre a palavra poeta. E o que nos diz é o seguinte: "poeta - adj. que faz poemas ou versos. n.masc. 1. autor de poesia; vate; versejador. 2. autor cuja obra tem características poéticas. 3. aquele que tem inspiração ou imaginação inspirada. 4. idealista, sonhador; 5. indivíduo bem falante, eloquente.
poeta de água doce - poeta que faz maus versos."
Então seremos todos poetas?
E eu? Serei poeta?
Se me perguntarem o que sou responderei sem qualquer hesitação "sou professora", porque é o que faço a maior parte do tempo, enquanto não estou a dormir, mas também sou outras coisas. Sou mãe de duas filhas adolescentes, com todo o trabalho e preocupações que isso implica; sou filha de uma mãe praticamente inválida e que depende exclusivamente de mim; sou dona de casa, com todas as tarefas inerentes ao ofício - lavar, passar, secar, arrumar, cozinhar...também sei furar paredes com o berbequim e colocar as buchas e os parafusos, porque gosto de bricolage e decoração. Enfim, no final de tudo isto e no pouco tempo que me resta, faço poesia. Então como funciona em mim o processo da criação poética? De duas formas, através do sofrimento, das "pancadas da vida" e por "encomenda" e como já levo pancadas da vida há muito tempo, embora não se note, já escrevo há muito tempo.
Uma das primeiras pessoas que me "encomendou" um poema foi a minha muito querida irmã Alexandrina, minha catequista, uma freirinha da Casa de Formação Cristã, o "Refúgio", situado ali ao pé do Clube dos Empresários, que me mandou fazer um poema sobre o Natal (leitura do poema). Eu tinha então por esta altura 10 anos. Hoje já vejo o Natal com outros olhos (leitura de um poema atual sobre o Natal). Depois vieram os textos de escola, encomendados pelos meus brilhantes professores de português, que tive a sorte de ter e pela mão dos quais escrevi variadíssimos textos. Seguidamente, ou talvez em simultâneo, veio a adolescência e os poemas de sofrimento de amor e ainda bem que tive o bom-senso de rasgar tais manuscritos, pois era amor por todo o lado e digamos que não eram palavras demasiado lamechas para que se dessem a ler. Entretanto cheguei a este livro, o "Cores do Silêncio". E por que razão publiquei só agora? Porque eu considero que para publicar, é necessário reunir três coisas: experiência de vida, maturidade e técnica. Os meus poemas da adolescência até podiam ter muito sentimento, mas faltava-lhes maturidade e técnica. Decidi publicar este livro, não por qualquer tipo de pretensão, mas porque achei que tinha mensagens que eu queria partilhar.(leitura de um poema do livro - "Ao Vulgo").
Sei que existem muitas formas de fazer poesia, mas os meus poemas nascem do sofrimento, não apenas do meu, mas daquele que sinto através dos outros, exatamente como o Fernando Pessoa descreveu na sua Autopsicografia - o poeta tem uma dor, uma emoção, um sentimento e depois passa a um segundo patamar da dor, quando racionaliza as emoções, quando trabalha as palavras e as lapida, distanciando-se da dor que sentiu inicialmente. A dor última do poema será a dor do leitor e corresponde à dor da interpretação que poderá não ser de todo coincidente com a do poeta. O poema é um objeto estético e tal como nas outras artes, produz diversas interpretações.
Irei publicar entretanto outro livro que se encontra dividido em três partes e gostaria de ler agora um poema de cada uma delas (leitura dos três poemas).
E como este evento se intitula "Coimbra (T)em Poesia" vou ler agora o poema "A Coimbra" do livro Cores do Silêncio. (leitura do poema).
Deixo-vos um dos meus poemas que foi lido pelo João Rasteiro e declamado pelo poeta Alexandre Sarrazola nesta sessão:"
A esta sessão seguiu-se um pequeno debate com questões da assembleia aos 2 poetas participantes e, finalmente, foi-nos oferecido um conjunto de livros.
Uma sessão fantástica, para recordar!
Uma das primeiras pessoas que me "encomendou" um poema foi a minha muito querida irmã Alexandrina, minha catequista, uma freirinha da Casa de Formação Cristã, o "Refúgio", situado ali ao pé do Clube dos Empresários, que me mandou fazer um poema sobre o Natal (leitura do poema). Eu tinha então por esta altura 10 anos. Hoje já vejo o Natal com outros olhos (leitura de um poema atual sobre o Natal). Depois vieram os textos de escola, encomendados pelos meus brilhantes professores de português, que tive a sorte de ter e pela mão dos quais escrevi variadíssimos textos. Seguidamente, ou talvez em simultâneo, veio a adolescência e os poemas de sofrimento de amor e ainda bem que tive o bom-senso de rasgar tais manuscritos, pois era amor por todo o lado e digamos que não eram palavras demasiado lamechas para que se dessem a ler. Entretanto cheguei a este livro, o "Cores do Silêncio". E por que razão publiquei só agora? Porque eu considero que para publicar, é necessário reunir três coisas: experiência de vida, maturidade e técnica. Os meus poemas da adolescência até podiam ter muito sentimento, mas faltava-lhes maturidade e técnica. Decidi publicar este livro, não por qualquer tipo de pretensão, mas porque achei que tinha mensagens que eu queria partilhar.(leitura de um poema do livro - "Ao Vulgo").
Sei que existem muitas formas de fazer poesia, mas os meus poemas nascem do sofrimento, não apenas do meu, mas daquele que sinto através dos outros, exatamente como o Fernando Pessoa descreveu na sua Autopsicografia - o poeta tem uma dor, uma emoção, um sentimento e depois passa a um segundo patamar da dor, quando racionaliza as emoções, quando trabalha as palavras e as lapida, distanciando-se da dor que sentiu inicialmente. A dor última do poema será a dor do leitor e corresponde à dor da interpretação que poderá não ser de todo coincidente com a do poeta. O poema é um objeto estético e tal como nas outras artes, produz diversas interpretações.
Irei publicar entretanto outro livro que se encontra dividido em três partes e gostaria de ler agora um poema de cada uma delas (leitura dos três poemas).
E como este evento se intitula "Coimbra (T)em Poesia" vou ler agora o poema "A Coimbra" do livro Cores do Silêncio. (leitura do poema).
Deixo-vos um dos meus poemas que foi lido pelo João Rasteiro e declamado pelo poeta Alexandre Sarrazola nesta sessão:"
quando
nascemos
os
bichos abriram desmesuradamente os olhos
para
a perfeição dos querubins
e
a boca de espanto
esconderam-se
dentro das nossas asas
para
voar connosco
assim
que aprendêssemos
lá
de dentro segredaram-nos histórias
de
bruxas lobisomens e fantasmas
perigos
culpas castigos
e
não encontrámos mãos para os tirarmos
do
ninho construído com as nossas penas
os
bichos gritam-nos que perdemos
a
cada instante
e
que as vitórias são longe
é
preciso expulsar os bichos dementes
que
nos trazem visões de adamastores
fazer-lhes
uma cirurgia
abrir-lhes
as entranhas
retirar-lhes
o fel
implantar-lhes
um coração qualquer
desde
que seja um coração
é
preciso afastar os bichos para longe
travar
a força dos presságios
pintar
as asas de branco
e
voar limpos
A esta sessão seguiu-se um pequeno debate com questões da assembleia aos 2 poetas participantes e, finalmente, foi-nos oferecido um conjunto de livros.
Uma sessão fantástica, para recordar!
Sempre boas estas iniciativas
ResponderEliminarpartilhadas
Bjs
Pois são :)
Eliminarobrigada
bjs
Apreciei muito a leitura da sua generosa partilha
ResponderEliminardesta bela experiência.
Para mim, o poeta não está ligado a publicação
de livros que o represente, mas o sentir poético,
a um estado de Ser poesia, a poesia acontece no
vivencial antes da escrita, por isso, conheço poetas
sem escrever poesia, mas no sentir e ler poesia
como indispensável no seu olhar!...
A poesia na expressividade de qualidade deve possuir:
excelência no trabalho da linguagem (técnica),
singularidade (originalidade), inspiração (sentir poético)
e beleza imagética.
Este seu poema é um bom exemplo desta poesia de
qualidade, Graça!
Desculpa pelo comentário extenso...rss
beijinhos.
Pode sempre ser extensa :))
EliminarTambém é assim que penso!
beijinho
Gostei do "discurso"!
ResponderEliminarDeve ter sido uma bonita sessão!
Parabéns!
:)
Obrigada, Isabel!
Eliminarbeijinho
Coimbra é poesia...
ResponderEliminarO teu "discurso" foi muito bom, gostei imenso.
Bom fim de semana, querida amiga Graça.
Beijo.
Obrigado, Jaime!
Eliminarbeijinho
Graça, li com toda a atenção o seu "discurso" introdutório, nele compreendi de onde vem todo esse seu sentir profundo que faz de si uma mulher e uma poeta que admiro.
ResponderEliminarSer poeta para mim, que aspiro ainda a essa condição, é conseguir transmitir por palavras o que nos vai na alma.
A Graça tem esse dom e só lhe posso dar os parabéns por nesse evento ter sido reconhecida como merece.
Um beijinho com amizade
Olá, Fê!
EliminarPara mim o poeta é também o que consegue transmitir por palavras o que lhe vai na alma e a Fê também consegue :))
Obrigada pelas suas palavras amigas.
beijinho
Esteve bem, Graça. É que o(a) poeta, para lá do ter, e por mais dúvidas que tenha, É, essencialmente.
ResponderEliminar(Gostava de lá ter estado. Palavra!)
Um beijinho :)
Olá, querido AC!
EliminarE eu gostaria de ter contado com a sua presença.
Obrigado pelas suas palavras amigas.
beijinho
Gostei de tudo o que disse sobre a poesia. Sensibilizou-me o que contou sobre a sua vida. O poema que aqui deixou é muito belo. Obrigada por partilhar.
ResponderEliminarUma boa semana.
Beijos.
Obrigada pelo apreço, Graça!
Eliminarbeijinhos
"Poesia, Liberdade livre" (A.Ramos Rosa)
ResponderEliminaro que, em minha perspectiva, significa que a "poesia não tem donos"
e, que a poesia é um "acto de liberdade" ao alcance de cada um, conforme a veemência do apelo (poético)~
beijo
É exatamente isso!
EliminarA poesia não tem donos!
Obrigado
bjs