JANELAS
Hoje ao passar por uma
rua pacata da minha cidade, detive-me nesta janela. Gosto de janelas, que tal
como as portas, são passagens para o exterior, para o mundo. É por dentro da
minha janela e para lá da minha janela que escrevo e me inspiro. À janela
esperamos ver, com o nosso olhar indiscreto, os interiores das casas, quando
não há cortinas que resguardam dos olhares; vasos com flores, de preferência
sardinheiras de cores fortes; velhinhas a apanhar sol e a observar quem passa;
e gatos, claro! Esta janela deteve-me, não porque deveria ser de madeira, mas
por ter dois gatos, porque gosto de gatos. Ambos amarelos, coincidência que
tornou o quadro mais bonito de admirar. Bati no vidro, para captar os olhos do
mais molengão e vislumbrei um ligeiro abanar da cortina. Alguém me terá visto e
não se mostrou, mas também não me interceptou na indiscrição da foto. Imaginei uma
velhinha bonacheirona e bondosa, a viver sozinha na companhia dos dois gatos
que lhe alimentam a solidão da velhice, com a ausência de palavras amargas de
ingratidão ou cansaço. Imaginei a velhinha sentindo-se prestável para os dois
animais, alimentando-os com ternura e mimo. Uma senhora passou na rua, observou
a minha atitude e logo encetámos uma conversa curta sobre gatos. A senhora
seguiu o seu caminho e cruzou-se com um gato cinzento, sem dono possivelmente, a
julgar pela aparência, que mansamente sentado nos olhava. Na rua não estava
mais ninguém. Segui também o meu caminho, de alma cheia por um momento tão
insignificante, mas tão rico, para mim, de conteúdo.
A fotografia está muito engraçada. E gostei do texto.
ResponderEliminarÀs vezes tenho vontade de ter um gato ou um cão, mas sou demasiado preguiçosa para isso. Acho os gatos simpáticos. São independentes e ao mesmo tempo parecem tão meiguitos.
(O seu livro está à venda nas livrarias ou pede-se para alguma editora?)
Continuação de boa semana:)
Obrigada, Isabel!
EliminarEu tenho duas gatas, sempre gostei de gatos e penso que dão menos trabalho que os cães. São animais tranquilos!
Envie-me um mail e tratamos por lá do assunto do livro, pode ser? Obrigada!
gamialves@gmail.com
beijinho
Muito obrigada, Graça, vou mandar então um mail para me dizer como fazer.
Eliminarum beijinho:)
Obrigada :)
EliminarGraça,
ResponderEliminarAdorei a tua janela e a história que ela trouxe.
Beijinhos. :))
Obrigada, Ana!
EliminarSou sensível até ao que imagino...
beijinho :))
São as pequenas coisas que nos alimentam, que sustentam o nosso edifício interior, que lhe conferem contornos...
ResponderEliminarGostei muito do texto, Graça.
Um Feliz 2016! :)
Obrigado, AC! Pois, tem razão, as pequenas coisas são às vezes muito importantes para sustentar o nosso "edifício interior", expressão interessante para o eu de cada um de nós.
EliminarVotos de Feliz Ano de 2016 para si também!
Todos nós nos avizinhamos! A necessidade que temos de atravessar a linha fronteira, a janela fronteira, para interagir com o outro: “espreitar” no respeito pelo outro. A janela é obstáculo mas também convite, oportunidade de cumprir o que somos. Nos dias que correm em que a privacidade e o abuso se revelam por excesso é no regresso ao abeirar, ao avizinhar que hiatos, buracos negros, solidões e desesperos se esbatem. O exercício dessa necessidade humana é essencial para a manutenção de sanidade mental.
ResponderEliminarA Graça Alves partilhou aqui um momento mágico que soube transmitir numa mensagem muito bem escrita.
Bom ano 2016 com "espreitadelas" gratificantes.
Gostei do termo "Avizinhamos" que resume todo o seu texto!A solidão é um drama profundo que deve tentar combater-se pelo "regresso ao abeirar".
EliminarObrigado pelas suas palavras tão bem ditas.
Feliz 2016!
Escreveste este delicioso texto há 2 anos...!
ResponderEliminarAcho que precisas de outra janela para te inspirares, porque já há muito tempo que não publicas.
Continuação de boa semana, amiga Graça.
Beijo.